As empresas familiares constituem a grande maioria dos empreendimentos privados em nosso país e são caracterizadas pelo controle e gestão por membros de uma ou mais famílias. Apesar do vínculo familiar trazer benefícios, a dinâmica dessas empresas possui diversos desafios, especialmente quando não detém uma governança corporativa devidamente estruturada.
No artigo a seguir pontuamos alguns desafios enfrentados por empresas familiares e como a governança corporativa atua sendo um mecanismo de blindagem e profissionalização da gestão desses empreendimentos. Boa leitura!
O que são as empresas familiares?
Caracterizadas pela gestão e controle, por parte de uma ou mais famílias, as empresas familiares compreendem mais de 80% dos negócios em território nacional, segundo estudos recentes. Tratam-se de companhias privadas cujos cargos de liderança são ocupados por membros da mesma família e assim tendem a permanecer com o passar das gerações.
Podemos dizer que, diferentemente da visão de muitos, para que uma empresa seja considerada familiar não é necessário que todos os membros do quadro de gestão sejam da mesma família, mas sim que a família detenha a maior parte das ações, constituindo grande parte do patrimônio da empresa.
Ressalta-se, portanto, que a empresa familiar constitui, de longe, o modelo preferido dos empreendedores do nosso país, seja pela confiança criada entre os membros da família ou também pela flexibilidade nos processos de tomada de decisão diante dos valores em comum com o sócio fundador.
Todavia, a dinâmica da empresa familiar deve ser analisada com cautela, avaliando os riscos na ausência de profissionalização do empreendimento a fim de alcançar a perpetuidade dos negócios familiares e corresponder às expectativas criadas ao longo de gerações.
A dinâmica e os desafios da empresa familiar
A gestão de empresas familiares possui diversas peculiaridades, resultando em desafios específicos a esse tipo de empreendimento.
Inicialmente, podemos destacar que os valores inerentes à dinâmica empresarial, tais como a lógica de competição com um viés capitalista, não harmonizam perfeitamente com os valores familiares, caracterizados pela cooperação entre os seus membros.
Comumente podemos observar dois descendentes do sócio fundador possuírem a mesma função na empresa, independentemente da performance e dedicação de cada um deles, fato este que, por si só, pode causar atritos.
Na grande maioria das empresas familiares é evidente a ausência de hierarquia e meritocracia. Quando há um organograma, o mesmo muitas vezes reflete, de forma equivocada, a dinâmica das relações no âmbito familiar pessoal. Como exemplo, podemos citar um organograma empresarial no qual determinado familiar possui determinado cargo exclusivamente em razão de seu parentesco (ex. filho) com o sócio fundador.
Outro desafio enfrentado por essas empresas, devido à intimidade entre os membros da família, diz respeito à confusão de ambientes de tomada de decisão. Percebe-se a extensão de tomadas de decisões dignas de conselhos de administração em ambientes e eventos familiares, ao invés de centralizadas no expediente ou espaço físico da empresa.
Apesar da agilidade das decisões tomadas pelos familiares em lugares informais, devemos ressaltar que tal dinâmica é prejudicial à empresa na medida em que exclui os demais stakeholders do processo decisório e, a depender de onde a tomada de decisão é feita e a sensibilidade do assunto da mesma, há risco de vazamento da informação. Nesse sentido, cada vez mais, os stakeholders exigem que além de uma definição estratégica do empreendimento é necessário entender o funcionamento da dinâmica familiar e sua respectiva governança.
Por fim, podemos apontar como um dos maiores desafios nas empresas familiares a sua sucessão empresarial, passando o empreendimento de uma geração familiar para a outra.
Na Pesquisa sobre Empresas Familiares de 2021, produzida pela consultoria PwC, restou comprovado que apenas 58% dos membros da família compartilham a mesma visão para o futuro da empresa, evidenciando divergências entre gerações familiares quanto à forma de administrar o negócio, ocasionando, muitas vezes, disputas de poder entre parentes.
Além disso, podemos destacar que as empresas familiares estão suscetíveis às dificuldades inerentes às seguintes questões:
- controle das emoções dos familiares;
- falta de comprometimento dos membros da família que ocupam cargos de gerência;
- falta de investimento na capacitação de funcionários;
- dificuldade na adaptação às inovações tecnológicas
- falta de profissionalização dos membros da família que exercem alguma função na empresa.
Governança corporativa: o que é e quais são as suas contribuições?
Podemos definir a Governança Corporativa como um conjunto de processos, costumes e regulamentos que norteiam a forma como uma organização é gerida e administrada.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) trata-se de um “sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização/controle e demais partes interessadas”.
Em resumo, a Governança Corporativa mostra a direção que uma empresa deve seguir para sua prosperidade, mediante a implementação de práticas voltadas para o fortalecimento da organização e definição de uma estratégia empresarial favorável ao negócio e os respectivos stakeholders, analisando a empresa em três aspectos:
- Planejamento;
- Comunicação;
- Transparência.
Por meio da Governança Corporativa, somos capazes de definir um planejamento empresarial para a empresa familiar, assegurando que os interesses gerais estejam alinhados aos interesses dos donos do negócio. Em outras palavras, avalia-se onde queremos chegar para saber como alcançaremos tal destino, levando-se em consideração os valores, propósitos, metas e a função a ser exercida por cada membro da organização.
A seguir temos o aperfeiçoamento do processo de comunicação objetivando o tratamento de assuntos empresariais de forma apropriada, em especial diferenciando a comunicação em âmbito familiar como as decisões inerentes ao empreendimento.
Além disso, a implementação da Governança Corporativa garante que os processos e diretrizes estão sendo corretamente seguidos e promove uma cultura de transparência na companhia. Dessa forma, cria-se o ambiente propício para prestação de contas aos stakeholders, abrindo espaço para os colaboradores mostrarem o seu real valor, bem como favorecendo a elaboração de um plano de carreira de acordo com a fluência do negócio.
Estratégias e aplicabilidade da Governança Corporativa nas empresas familiares
Conclui-se que é de fundamental importância o administrador da empresa familiar sempre buscar se informar sobre as melhores práticas de gestão e conhecer os desafios inerentes à espécie de empreendimento que atua.
Conforme mencionado anteriormente, apesar dos benefícios peculiares dos empreendimentos familiares (ex. confiança), acarretando em uma visão otimista dos acionistas em virtude dos sócios fundadores integrarem o négocio, cumpre esclarecer que que podem ser desenvolvidos vícios empresariais decorrentes do excesso de informalidade e da ausência de uma hierarquia organizacional bem estruturada.
Dessa forma, a empresa familiar tende a criar maior valor do que as empresas não familiares desde que possua uma visão estratégica voltada à correta utilização dos seus recursos e definição dos processos para continuar crescendo com o passar do tempo.
Nesse sentido, a implementação da Governança Corporativa ocasiona em diversos benefícios aplicáveis às empresas familiares, em especial:
1) a definição de uma hierarquia organizacional, deixando claro as atribuições e responsabilidades de cada um, além de criar horizontes possibilitando que o colaborador saiba onde poderá chegar, evitando o sentimento de estagnação nos funcionários externos à família;
2) planejamento da sucessão empresarial, mediante um alinhamento estratégico para a entrega do bastão para a geração seguinte de forma equilibrada. Além disso, permite a preparação e capacitação dos herdeiros para assumir a responsabilidade e dar continuidade ao empreendimento;
3) profissionalização da empresa familiar baseado na criação de um modelo de gestão, com procedimentos bem desenhados com intuito de tornar as decisões empresariais mais técnicas, afastando, ao máximo, o aspecto afetivo inerente à família.
Assim, visando a perpetuidade das empresas familiares, a definição de estratégias de governança corporativa a fim de regular as regras do empreendimento antes da ocorrência de qualquer evento danoso se faz necessária, possibilitando a prevenção e a correta reparação de situações que escapem às regras previamente definidas.
Como começar a estruturar um processo de Governança Corporativa na sua empresa
A contratação de especialistas em Governança Corporativa é fundamental para a confecção e execução do processo. Muito além do que um programa de Compliance anticorrupção, a governança abarca a sustentabilidade do empreendimento levando em consideração desde seus valores e propósitos à profissionalização da gestão gerencial.
Não há receita pronta para iniciar um processo de Governança Corporativa e para implementá-lo. Cada empresa funciona de uma maneira e o processo se adequa às especificidades inerentes a cada tipo de negócio, mesmo que seguindo algumas parametrizações e boas práticas.
Com atuação na área de Governança Corporativa e Compliance, a SSA Advocacia auxilia empresas familiares na perpetuidade de seus negócios propondo soluções exclusivas, inovadoras e seguindo as melhores técnicas de boas práticas do mercado.
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